Berlim, 25 de outubro de 2013
– Tô com fome.
– Eu também.
Esse diálogo sempre vem na hora errada. Talvez seja a lei de Murphy, mas nas nossas viagens a fome quase sempre bate quando estamos longe de qualquer sinal de restaurante. Ou lá pelas três e meia, quando estão todos fechando para a pausa entre o almoço e o jantar – não almoço meio dia nem na vida real, quem dirá em uma viagem.
Enfim, estávamos em alguma rua de nome impronunciável, aparentemente um pouco longe da zona turística, eu acho, meu senso de direção – que já não é bom – funcionou precariamente em Berlim. Decidimos caminhar pela margem do rio Spree e tentar encontrar algo antes que o Dani se transformasse em bicho por causa da fome.
Avistamos um bar de esquina. Os janelões deixavam escapar uma iluminação amarelada que contrastava com o céu azul-escuro, quase preto, do fim do dia. Era o Staendige Vertretung. Impronunciável. Entramos.
Era um salão grande, de pé-direito alto, com mesas compartilhadas e paredes preenchidas por bandeiras e quadros. Alguns eram posters antigos, outros fotos em preto e branco de personalidades que eu não conhecia. Os garçons passavam com bandejas cheias de copos de cerveja que tilintavam em harmonia com o burburinho animado dos alemães. As conversas que pareciam feitas só de consoantes e o padrão pele clara-cabelos loiros-bochechas rosadas não deixavam dúvidas de que eram alemães. Boa escolha! Quando o lugar tem mais gente local do que turistas, costuma ser um bom sinal.
Um dos garçons atarefados parou na nossa frente e disse alguma coisa. Nos entreolhamos com olhos arregalados.
– Sorry, we don’t speak german.
Ele mudou gentilmente para inglês e nos indicou um lugar. Cumprimentamos nossos vizinhos de mesa, despimos os casacos, gorros e cachecóis e começamos a explorar o cardápio. Notamos que todos tomavam uma bebida em um copo pequenininho, ficamos curiosos. O casal do lado logo puxou papo, explicaram que a bebida no copinho era cerveja, a especialidade da casa. Cerveja! É para isso que estamos na Alemanha, desce duas!
Chegou. Prost! Brindamos em alemão porque isso é a primeira coisa que se aprende em uma conversa num bar, é claro! Demos o primeiro gole. Nos entreolhamos. Olhamos para o casal. Eles tinham aquele ar animado que dizia “É bom, não é?! Não é?!”. Elogiamos a cerveja.
– Nossa detestei essa cerveja! – o Dani falou, assim que eles foram embora.
Concordei, mas gostei do copo. Pedimos a nossa comida e uma cerveja diferente – agora sim!
Chegaram novos vizinhos de mesa, um grupo de seis pessoas. Um deles perguntou se podíamos pular uma cadeira para o lado para que eles conseguissem sentar-se todos juntos. Claro, normal.
Alguns minutos depois surge em nossa frente um novo copinho, o da cerveja estranha. Olhamos confusos, fizemos menção de chamar o garçom para explicar que devia ser um engano, não havíamos pedido aquilo, mas a essa altura o garçom frenético já tinha servido mais três mesas.
– Prost!
Olhamos para o lado. Uma mão erguia um copinho igual em nossa direção. Era um agradecimento pelo favor, explicou o vizinho de bochechas rosadas.
Bebemos a cerveja outra vez. O copinho virou souvenir de uma viagem onde descobrimos que os alemães, que soam tão ríspidos em sua língua de palavras impronunciáveis, são mais amáveis e simpáticos do que imaginávamos.
Como é bom sair por aí quebrando pré-conceitos.
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