As vizinhas
Depois de décadas de casamento, eles ainda vão ao mercado juntos. Voltam em passos lentos, com as mãos já enrugadas carregando pequenas sacolas que parecem pesar demais para o que o corpo aguenta.
No caminho encontram a vizinha, carregando suas compras como também faz a anos, mas agora usando máscara e luvas. Antes, vê-la era parte da rotina e um “olá, como estás?” quase bastava. Mas agora tudo mudou. Agora sair a rua é um risco para a vida dos três.
Um pouco alheia ao perigo, e imensamente feliz por vê-la depois de tanto tempo, a esposa entrega a sacola ao marido e atravessa a rua em direção a amiga. Abre os braços e seu melhor sorriso e se prepara para um reconfortante abraço!
Mas quando estão a poucos passos uma da outra, a vizinha recua, faz, do jeito mais doce que consegue, um sinal para que ela pare e diz: “Não podemos, é para o nosso bem e para o bem de todos”.
Sem conseguir esconder a decepção, mas sabendo que a outra está certa, ela pára. E assim, distantes uma da outra, as vizinhas conversam e riem como sempre fizeram, e certamente sempre encontrarão um jeito de fazer.