Wanderlust, o mundo foi feito para ser explorado

Ele era lindo, jovem, uma mistura de Cazuza e Caetano Veloso. Simpático, do tipo que chega e ilumina qualquer lugar. Cachos loiros na cabeça, olhos azuis e um sorriso largo, acompanhando as histórias que eu adoraria lembrar. Não me lembro, tinha 7 anos quando ele fez sua última viagem, com destino ao infinito.

Minha avó, sem saber, acertou o nome do filho, Wander. Não o conheci profundamente, muito do que sei me foi contado por aqueles que viveram ao seu lado, e todos, sem exceção o descrevem com brilho nos olhos, com amor e saudades. Mas mesmo sendo uma criança, ele de alguma forma me marcou, e hoje consigo enxergar o quanto dele carrego em mim.

O penúltimo de 8 irmãos era um espírito livre. Assumidamente gay em uma época onde isso era ainda mais tabu do que hoje. Ele tinha ideais, era autêntico, teatral, musical, pintava o cabelo de azul, dançava, fazia amigos e viajava.

Foi do Brasil ao Japão, casou-se nos Estados Unidos e viveu um amor eterno em Paris. A capital francesa foi onde ele morou até o fim dos seus dias e onde está até hoje, dando um significado especial a uma certa praça no Marais, meu bairro preferido na cidade. Quando pequena, eu mandava cartas com desenhos da Torre Eiffel e mal sabia que, muito provavelmente por causa da história dele, Paris também entraria na minha vida de forma permanente e inesquecível.

Minha maior lembrança é a dos presentes que ele me trazia. Pode parecer materialista, mas cada um daqueles objetos tem um valor incalculável pra mim. O mais especial deles é um globo inflável transparente. Quando era pequena achava só um brinquedo legal, hoje sei que é muito mais que isso, representa o mundo, aquele que meu tio Wander explorou e que seguindo seus passos, estou começando a explorar.

E porquê minha avó acertou ao escolher seu nome? Wander foi o exemplo perfeito para o conceito de Wanderlust, palavra originalmente alemã que traduz o sentimento de desejo incontrolável de viajar, urgência em conhecer coisas e lugares novos. Essa palavra é a junção dos termos Wander (caminhar) e Lust (desejo) e não tem uma tradução direta em português. É como saudades, não se traduz, apenas se sente.